UM MÊS DE POESIA 06 de Novembro 2021

Escolha poética de Elisabete Luis
Assistente Operacional do Centro de Saúde de Tavira
foto de Paulo Silva

E O SOM SÓ DENTRO DO RELÓGIO ACENTUADO

E o som só dentro do relógio acentuado
No serão sem ninguém das casas de jantar da província
Põe-me o tempo inteiro em cima da alma,
E enquanto não chega a hora do chá das tias velhas,
O meu coração ouve o tempo passar e sofre comigo.

Tic-tac mais sonolento que o dos outros relógios —
Na parede, de madeira, este tem pêndulo e oscila.
O meu coração tem saudades não sabe de quê.
Tenho que morrer…
Tic-tac mecânico e certo — serão sereno mecânico na província.

s.d. Álvaro de Campos – Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução,
transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993.  – 170.

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